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Enterro do Papa: vejam o que estabelecem as escrituras do adeus

A Igreja determina certas tradições para um funeral de um papa, mas em sua condição de papa emérito, a cerimônia fúnebre de Bento XVI foi marcada por algumas mudanças

 

 

No dia 31 de dezembro de 2022, morreu o Papa Emérito Bento XVI, aos 95 anos. O estado de saúde dele se agravou depois que um resfriado evoluiu para um problema respiratório. Por causa da idade, ele tinha dificuldade de fala, estava perdendo a visão de um dos olhos e o coração já estava enfraquecido.

Joseph Aloisius Ratzinger – nome de batismo – foi o 265º papa da Igreja Católica. Nasceu na Alemanha, em 1927 e de um modo geral, suas ideologias eram vistas como conservadoras, mas com um intenso senso de caridade e justiça. Foi eleito pontífice em 2005, após a morte do Papa João Paulo, pregando sempre mensagens de paz, coragem e humildade para todo o mundo.

Seus pedidos foram atendidos e ele não foi levado ao hospital. Queria uma morte tranquila nos Jardins Vaticanos, mais precisamente no Mosteiro Mater Ecclesiae, onde morava há cerca de dez anos.

Bento XVI foi um papa bastante comunicativo, sempre disposto a falar com a imprensa, embora tivesse duras críticas aos veículos midiáticos. Em 2011, inclusive, criou uma conta no Twitter para postar as reflexões do Angelus dominical.

Mas Bento XVI entrou para a história como o primeiro papa em seis séculos a renunciar ao cargo, em fevereiro de 2013. A decisão, segundo ele, veio depois de um tombo que levou em uma visita ao México, em 2012, quando sentiu o peso da idade com mais força.

Embora o Vaticano tenha afirmado que a decisão foi voluntária, muitos desconfiaram. Na época, a Igreja passava por um momento difícil devido a uma série de problemas relacionados à corrupção e má conduta sexual de seus membros. A teoria era de que Bento XVI foi pressionado a renunciar. Ele negou.

Rito funerário do papa

Um dos acontecimentos mais solenes no catolicismo é a morte de um papa. Por causa disso, há um ritual específico que deve ser seguido.

Os médicos do pontífice são os responsáveis por determinar a hora da morte, mas a tradição da Igreja pede que um ritual seja realizado antes da oficialização do óbito. O camerlengo, que também é quem anuncia oficialmente o falecimento, deve ficar ao lado da cama do papa e chamar seu nome de batismo três vezes. No caso de Bento XVI, Joseph Aloisius Ratzinger.

Depois, o Anel do Pescador, símbolo de máxima autoridade papal, deve ser destruído. A tradição foi estabelecida a partir do século XV, quando o anel era usado para selar documentos oficiais. Se caísse em mãos erradas, informações falsas poderiam ser atribuídas à Santa Sé. No entanto, é enterrado com o anel episcopal de ouro – a representação de seu papel como bispo de Roma.

O dia do funeral é decidido pelo Colégio de Cardeais. A realização deve acontecer entre o quarto e o sexto dia após a morte – a não ser que haja um testamento com outra data. Como de costume, o papa é enterrado na cripta sob a Basílica de São Pedro, onde estão os corpos dos pontífices mais recentes.

O Vaticano também segue uma espécie de roteiro encontrado no Ordo Exsequiarium Romani Pontificis, um manual de 437 páginas escrito em italiano e latim. As instruções demandam três momentos-chave: 

  1. Realização de uma missa quando o papa é colocado na esquife

  2. Realização de uma grande missa fúnebre na Praça de São Pedro

  3. Realização de um elogio final de despedida, já no túmulo, diante de um pequeno grupo de pessoas 

Um papa tem três caixões que cabem um dentro do outro. O primeiro é de madeira cipreste, que é colocado dentro de um de chumbo. Este, por sua vez, é posicionado em uma caixa de madeira de pinheiro.

Lá dentro, é depositado um pergaminho, em latim, com os principais feitos do pontífice. Junto ao corpo também são colocadas três bolsas vermelhas com moedas de ouro, prata e bronze – que devem ter sido cunhadas na época de seu pontificado.

Funeral de Bento XVI

O funeral de Bento XVI, no entanto, teve algumas diferenças. Antes de sua morte, o Vaticano nunca havia divulgado o que é feito quando um papa emérito morre. A verdade é que não há um ritual de despedida específico para esse caso, o que significa que Bento XVI não foi enterrado sob as tradições fúnebres de um pontífice.

O funeral foi bastante semelhante ao de um bispo romano aposentado, com a diferença de que, ao invés de ser presidido pelo Colégio de Cardeais, foi encabeçado pelo Papa Francisco. Inclusive, vale destacar que um papa guiar o funeral de seu antecessor é um feito inédito na Igreja Católica.

Mas outras modificações também foram feitas. Bento XVI era chefe de Estado, o que significa que seu funeral foi mais grandioso do que a de um bispo, com a presença de delegações oficiais de vários países – como os monarcas da Bélgica, Felipe e Matilda, o chanceler colombiano, Álvaro Leyva Durán, e os presidentes da Polônia e Eslovênia, Andrzej Duda e Natasa Pirc Musar.

A cerimônia fúnebre começou, pontualmente, às 5h30 (horário de Brasília) do dia 5 de janeiro, na Praça São Pedro, no Vaticano. De acordo com informações da Santa Sé, pelo menos 50 mil fiéis participaram da homilia feita pelo Papa Francisco, que ressaltou a “sabedoria, delicadeza e dedicação” de Bento XVI.

Seus caixões foram feitos de cipreste, zinco e carvalho. Pouco antes de ser colocado no espaço do chão para o enterro, o arcebispo Georg Gaenswein, secretário de longa data do papa emérito, deu a bênção final.

Nos três dias de velório, cerca de 200 mil pessoas foram à Basílica de São Pedro para prestar o último adeus ao papa emérito. Ele foi enterrado no antigo túmulo de São João Paulo II, cujas restos mortais foram transferidos para a capela no andar principal da Basílica após ser beatificado em 2011. 

O túmulo de Bento XVI já está aberto para visitação no Vaticano.

 

Por: Alcindo Batista Almeida

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