Este texto busca apresentar a visão de quem mora no litoral e acompanha de perto a situação.
Um surto de virose atingiu o litoral paulista entre o final de dezembro do ano passado e o início deste ano, gerando uma avalanche de informações e teorias sobre as causas do problema.
De acordo com dados “oficiais”, amostras coletadas em Praia Grande e Guarujá pelo Instituto Adolfo Lutz apontaram o norovírus como o principal responsável.
Mas o que realmente observam os moradores locais?
Bocas de lobo
Nas redes sociais, circulam vídeos que mostram autoridades e alguns influenciadores locais, afirmando que as bocas de lobo não despejam mais esgoto na areia ou no mar, apenas águas pluviais. Contudo, para quem vive aqui o ano todo e frequenta a praia regularmente, esse discurso não convence.
É evidente e quem tem o olfato normal, percebe o forte cheiro de esgoto que emana dessas bocas de lobo. Mesmo em dias sem chuva, a água escorre em direção ao mar, o que coloca em dúvida a alegação de que se trata apenas de águas pluviais.
O sabor da água
Outro ponto observado pelos moradores foi a diferença no sabor da água fornecida durante as festas de fim de ano. Mesmo com o uso de filtros, muitos perceberam algo diferente, o que leva à suspeita (ou teoria) de que a Sabesp não conseguiu tratar a água adequadamente devido ao grande aumento da população nesse período.
Vale ressaltar que essa diferença no sabor não é mera especulação, é um fato notado por diversos residentes.
Sujeira e falta de educação
Os turistas são sempre bem-vindos, mas precisam ser mais conscientes e educados.
Em Praia Grande, por exemplo, durante o ano, a limpeza da cidade é bem mantida: moradores locais cuidam das praias, e os caminhões e tratores da prefeitura garantem a limpeza diária da areia e da orla.
No entanto, com a chegada da temporada de verão e dos feriados, a situação muda drasticamente. A sujeira se espalha pela areia e pela orla: sacolas, restos de comida, embalagens, bitucas de cigarro e até absorventes usados acabam abandonados. Muitos turistas ainda urinam e defecam em locais públicos, contribuindo para o aumento de baratas, ratos e, consequentemente, para a proliferação de bactérias e vírus.
A responsabilidade é de todos
Embora autoridades e turistas tenham sua parcela de culpa, a solução passa por um esforço conjunto.
Para os governantes: é fundamental estimar o número de visitantes e preparar melhor a infraestrutura, especialmente o saneamento básico e o tratamento de água, durante o período de alta temporada. Além disso, é preciso mais transparência sobre a real situação do esgoto despejado no litoral, basta caminhar próximo às bocas de lobo durante o ano e tirar as conclusões.
Para os turistas: a praia deve ser cuidada como se fosse a própria casa. Acredito que em sua residência ou local que mora, eles não jogam restos de comida pela sala, absorventes no chão do quarto ou sacolas no quintal. Não se defeca fora do banheiro como animais irracionais.
Agir com consciência e respeito é o mínimo esperado de qualquer pessoa.
Com pequenas atitudes, tanto das autoridades quanto dos visitantes, é possível evitar novos surtos descontrolados de virose no verão.
Respeitar o litoral é essencial para garantir um ambiente mais saudável para todos.