Especialistas em Radiologia da Universidade, no Cairo, investigam os restos mortais e descobrem sinais de riqueza em rito de passagem para a vida após a morte.
Através de equipamentos de Radiografias e tomografias cientistas scaneiam corpo do menino mumificado, revelando detalhes íntimos que não foram descobertos por mais de um século. Segundo os autores de um estudo publicado nesta terça-feira (24/01) sobre as descobertas, 49 amuletos preciosos adornavam os restos mortais, incluindo um escaravelho de coração de ouro que foi usado para substituir o coração do menino.
Sahar Saleem, professor de radiologia na faculdade de medicina da Universidade do Cairo e co-autor do estudo, disse que os restos intactos são reveladores tanto para o status socioeconômico do menino – provavelmente vindo de uma família rica – e o significado dos amuletos na vida após a morte, que era um foco central do complexo sistema de crenças dos antigos egípcios. “Ele foi colocado dentro da cavidade do torso durante a mumificação para substituir o coração se o corpo fosse privado desse órgão”, explicou Saleem no estudo.
Os restos mumificados foram descobertos em 1916 em um cemitério em Nag el-Hassay, no sul do Egito, que foi usado entre 332 e 30 aC, no que é conhecido como período ptolomaico. Foi armazenado sem exame no porão do Museu Egípcio no Cairo até o novo estudo. Ele tinha 128 centímetros de altura e era incircunciso, e a causa da morte não pôde ser determinada, disse o estudo. Os restos mortais do menino foram colocados dentro de dois caixões, um externo com uma inscrição grega em preto e um sarcófago interno de madeira.
“As sandálias provavelmente foram feitas para permitir que o menino saísse do caixão”, escreveu Saleem. Joann Fletcher, um egiptólogo e professor da Universidade de York que não esteve envolvido no estudo, disse à NBC News que demonstrou o valor de “formas de análise não invasivas e não destrutivas”. Amuletos foram colocados dentro do “menino de ouro” e entre os invólucros usados para mumificar os restos mortais, segundo o estudo publicado na terça-feira. A varredura revelou que eles foram organizados em três colunas.
“É bom ver essas técnicas de digitalização usadas para examinar a maneira como esses amuletos característicos foram colocados em pontos específicos do corpo onde serviam a um propósito de proteção”, disse Fletcher. Muitos dos amuletos eram de metal, provavelmente ouro, e os outros amuletos eram feitos de faiança, pedras ou argila queimada, revelou o estudo. “Muitas vezes no passado, eles foram removidos de seu contexto original no corpo e, portanto, são vistos como pouco mais do que peças de joalheria, o que é um mal-entendido sobre seu propósito real como um amuleto potente”, acrescentou Fletcher. O novo estudo surge quando os museus do Reino Unido avaliam se o termo “múmia” é apropriado para descrever restos mumificados, por causa do que alguns dizem ser suas conotações “desumanizadoras”.