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A INTOLERÂNCIA DISFARÇADA DE OPINIÃO

Um dos assuntos mais comentados essa semana, foi o pronunciamento um tanto quanto inusitado e desconfortável do deputado federal Nikolas Ferreira. Em pleno dia internacional da mulher, o deputado usou seu momento de fala colocando uma peruca e proferindo um discurso que causou diversos posicionamentos. O mais enfático em sua fala foi mais uma vez ataques diretos a mulheres transexuais, e destacando principalmente que defendia a pauta das “verdadeiras”(Bem entre aspas mulheres). Vale destacar que não é a primeira vez que o mesmo se mete em polêmicas em seus discursos, principalmente envolvendo a comunidade LGBTQIA+. Na mesma data, 08 de março de 2021, o então vereador de Belo Horizonte também proferiu frases transfóbicas direcionadas a também então vereadora Duda Salabert. Na ocasião, a mesma acionou a corregedoria. Nikolas também responderá por injúria por ter se referido a Duda pelo pronome masculino em 2020.

Mas diante de todo esse resumo, a pergunta que fica é: Qual o problema dele com as pessoas transexuais? Por que ele insiste tanto em atacar de todas as formas possíveis essa comunidade? Assim como nas outras ocasiões, o deputado afirma que expressava sua opinião, e que a “esquerda” quer “impor” essas questões na sociedade. Antes de mais nada, é preciso lembrarmos que transfobia é crime no Brasil, desde 2019, foi incluída na lei de racismo por decisão do STF.  Precisamos destacar que o Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais no mundo, e que a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos, e que mais de 90% das pessoas trans vivem da prostituição e outras atividades marginalizadas por não terem espaço no mercado de trabalho. Baseado nessas informações, como é possível se pautar na ideia de que essas pessoas ou quem as apoia quer “impor” algo na sociedade? Uma sociedade marcada pelo patriarcado por séculos, com um histórico de escravidão legalizada de mais de 300 anos. Quem quer mesmo impor algo aqui? Além do mais, a democracia deve fazer jus ao seu nome,” governo em que o povo exerce sua soberania”. Em mais de 500 anos de história minorias pouco souberam o que é ter a mínima condição de dignidade, quem dirá soberania, entre estes grupos, as pessoas trans sentem nos dias de hoje, o mesmo medo de sair na rua que sempre sentiram em todos esses anos de história.

Dito isto, é totalmente insustentável e inaceitável a narrativa de que o discurso caricato feito pelo deputado seja enquadrado como “opinião” apenas. Aliás, camuflar o discurso de ódio e discriminação com a justificativa que é “opinião” se tornou algo corriqueiro por aqui nos dias de hoje. O advento do “politicamente incorreto” fomentado pelo ex-presidente da república, faz com que muitas “opiniões” dotadas de calibre pesado fossem colocadas pra fora nos últimos anos.  Um discurso de opinião jamais irá ofender a existência de alguém. Opinião jamais irá caracterizar um inimigo a ser combatido. Opinião jamais irá ter como intuito coibir os direitos mínimos de alguém pela sua condição. Opinião é eu gostar de café mais fraco e você de café mais forte. Opinião é eu achar o Maradona melhor que o Pelé. Opinião é eu achar o disco do Scorpions de 1974 maravilhoso e você achar ruim. Dizer que existe um grupo tentando “impor” algo sobre alguém, induzindo as pessoas a criarem um inimigo em comum, sem o menor embasamento sólido não é opinião. É discurso de ódio. Uma das maiores críticas que ouço de muitos em relação a nossa democracia é justamente por esse risco de abrir brechas para que grupos extremistas tomem forma. Nikolas Ferreira usou e usa de seus palanques, seja internet ou o próprio cargo político para desenvolver isso.

Portanto, é notório que o risco é real. Minorias que já sofrem a tanto tempo em nossa república ainda são ameaçadas. Não apenas fisicamente, mas de perder direitos, ou até mesmo de não adquirir aqueles que até hoje lhes foram negados. Hoje temos um caso concreto de discurso de ódio camuflado de “opinião” vindo de um notório parlamentar. Cabe a nossa justiça agir, de maneira que venha a prevenir situações ainda mais perigosas, e até mesmo irreversíveis. Já pagamos tanto pra ver nesses últimos anos, e nos custou tão caro, seria um tanto quanto irresponsável cometer o mesmo erro tão recente. As diferenças existem, a diversidade é uma realidade, e cabe ao Estado Democrático de Direito dar a todos os seus cidadãos os mínimos direitos, independente de gênero, cor, etnia e orientação sexual. Parece óbvio, mas em tempos  com “Opinião” discriminatória, fazer essas afirmações se tornou necessidade diária.

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