Conflitos sociais e a arte como mediação
A arte sempre chegou atrasada aos fatos — e, paradoxalmente, antes de tudo. Ela não compete com a notícia, nem com a urgência do acontecimento. Sua função é outra: decantar o conflito, transformar ruído em forma, caos em linguagem. Em tempos de tensões sociais explícitas, a arte reaparece como espelho trágico de uma sociedade que já não consegue se explicar apenas pelo discurso racional.
Feita por humanos, a arte carrega inevitavelmente inclinações, escolhas e silêncios. Não existe obra neutra, assim como não existe olhar desinteressado. Ainda assim, reduzir toda produção artística a um gesto político direto empobrece sua potência. Fala-se muito sobre política — e com razão —, mas nem tudo é política no sentido estrito, ao mesmo tempo em que a política se infiltra no cotidiano, nas relaçõ...

