Quinta-feira, Dezembro 4Portal Comunica News

O QUE LEVAR DA VIDA

Sei que daqui, dessa vida terrena e cheia de aventuras já vividas e ainda por viver, porque espero ter muito tempo de vida pela frente, não vou levar nada material, até meu corpo vai ficar, aliás, ele vai apodrecer até os ossos. Seria bom que eu levasse para onde vou, também não sei ao certo esse lugar, uma vez que não fui assim um exemplo de vida a ser seguido, minhas memórias todas. 

          Complicado a gente querer alguma coisa que não esteja sob o nosso controle, mas nada nos impede de desejar também. Gosto tanto da minha vida, de verdade, eu não mudaria um milímetro dela, faria tudo outra vez, do mesmo jeito, até as coisas que por acaso me arrependi de ter feito e os erros que cometi, cometeria cada um exatamente como fiz, pois foi assim que fui construído, me tornei esse Celso que vos escreve com tesão e felicidade. 

             Se me fosse dada essa oportunidade de, no meu último suspiro, escolher o que levar daqui era a minha vida, amores e desamores, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas, tudo e mais nada, pois é o que sou, minha essência está em cada fato de minha vida, cada fase, desde quando eu ainda ignorava tudo, até quando peguei a malícia de tudo, sou eu, enfim. 

              Eu não sei quando e nem a causa da minha morte, que bom, espero que demore muito e que eu não sofra nesse momento, mas essa é outra coisa que não sou eu quem decide, até lá vou juntando minhas memórias, junto até o que não me lembro direito ou não me lembro de nada, mas essas coisas vão numa caixa que, vazia, conterá partes de minha vida, afinal nem tudo que fizemos lembramos, mas pode crer que alguém se lembra, então pode ser levado sem problemas, além de ficar um pedaço aqui para a “eternidade”, que dura tanto quanto o tempo em que seremos lembrados. 

               Tive a oportunidade de fazer coisas incríveis, conhecer gente maravilhosa, conversar, aprender, ensinar, brincar, bagunçar, apenas vivi a minha vida intensamente até aqui e, volto a dizer, não me arrependo de nada, pois eram fases da minha vida, fui evoluindo como pessoa, sou humano, errei, sim, não corrigi muitos dos meus erros, mas para quê corrigir algumas coisas que não fariam a diferença se estivessem certas ou erradas? Perda de tempo, ficar parado no tempo corrigindo o que não mudaria nada, preferi andar para frente e não cometer os mesmos erros, simples. O que valia a pena corrigir, eu corrigi, pelo menos tentei, se ficou certo ou não, eu não sei e prefiro nem saber, espero que tenha ficado, o que importa é que no ato de corrigir aprendi coisas novas para usar depois e assim foi feito. 

             Errei depois? Sim! Não os mesmos erros, outros. Errei menos? Espero que sim. Afinal evoluí, ou penso que tive alguma evolução, e ainda quero evoluir mais um pouco, a cabeça muda com o tempo, a pressa das coisas vai embora, o prazer passa a não ser o gozo, mas toda a transa, curtir o momento, só isso, tirar a roupa, ficar ali estudando o corpo da parceira, parando aqui e ali, e só depois… A vida não é uma corrida de cem metros, nem uma maratona, ela apenas é pelo tempo que ela durar, então tem que valer a pena cada segundo, é isso que eu quero levar, se puder levar bagagem nessa viagem, se não for cobrado excesso de peso, e se me cobrarem eu pago com a moeda da vez só para onde eu estiver reviver tudo novamente, inclusive o que me esqueci, talvez nesse lugar a memória seja reavivada e a caixinha vazia fique cheia de recordações legais. 

          Eu nunca vou deixar de crer na vida, até quando a minha estiver por um fio lutarei por ela, mas se não for possível lutar, quero ter a chance de fazer minhas malas de coisas vividas e levar comigo, pois do que vai ficar sei lá o que será feito, mas daí não vou mais me importar, assim como não me importo agora, apenas escrevo, pinto e tudo o que faço vai para o mundo, depois que são publicados não tenho mais controle sobre eles, são como filhos, que não os tive, crio para que saiam por aí a cruzar fronteiras e vencer as barreiras, este texto, por exemplo, não sei quem vai ler, nem se será lido, mas estará disponível aqui por muito tempo, enquanto durar o Comunica News, ou a paciência dos editores em manter minha coluna no ar. 

          De tudo o que desejei nessa vida, não realizei nem metade, mas o que realizei me deixou muito feliz, e teve o que nem desejei por achar que não era para mim, ledo engano, e acabei fazendo, tipo conduzir a Tocha Olímpica, que momento da minha vida, ainda lembro do calor do fogo no meu rosto, daquela noite com gente que eu nem conhecia querendo tirar foto comigo, eu, um Celso qualquer, sendo assediado na rua como um pop star, coisa que nem em meus mais loucos sonhos eu consegui enxergar, foram muito loucas essas horas. 

           Fiz outras coisas legais, vi coisas legais, passei sufoco dentro de um avião e posso te garantir que na hora do desespero você não pensa em nada, dá um branco, nesse dia eu até pensei numa coisa: em puxar o pé do menino que estava do meu lado no avião que não parava de falar como uma matraca, o pobre, em sua inocência, não percebeu o que acontecia e eu vendo aquele trambolho descendo feito uma folha de papel sobre um lugar escuro. Medo? Não tive tempo de sentir, eu não poderia fazer nada caso o avião estabacasse no chão, só morrer mesmo, depois de ter conhecido em carne e osso o Oscar do basquete, ainda bem que continuei vivo, porque tive a chance de estar com ele uma outra vez. 

           É a vida, meus caros, a gente pouco sabe sobre ela, vai aprendendo a viver à medida que vive, dias bons e dias ruins fazem parte e só nos resta sonhar em um dia, lá no seu final, poder levar o que foi vivido, nem que seja para que tudo se perca pelo caminho…  

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