Domingo, Setembro 15Portal Comunica News

ME CANSEI DE FALAR COM MÁQUINA

Me encheu a paciência e acho que não vai ter muito jeito de reverter, tenho que me acostumar a falar com uma voz feminina gravada que fica do outro lado da linha me mandando apertar números conforme o departamento em que quero falar.

Não devo ser o único chato que não aguenta mais ligar para a operadora de telefone, ou do cartão, ou para o banco e ter que ficar ouvindo aquela mesma voz enjoada dizendo “digite dois para fatura”, “digite três para sinistro”… e depois de falar todos os algarismos “digite nove para falar com um de nossos atendentes” e, finalmente, “se quiser ouvir de novo o menu digite estrela”,  no exato momento em que você digita o nove, se arrepende profundamente de optar por falar com uma pessoa, pois começa aquela musiquinha de piano, que serve apenas para te irritar, entremeada com a mensagem “use nosso canal digital para resolver qualquer problema que você tiver, digite www…, seu tempo de atendimento é de …minutos”, para fazer com que você desligue o telefone e entre na internet para não resolver o que deseja.

É humilhação demais você querer falar com uma pessoa e ser obrigado a falar com um robô, ou sei lá que troço é aquele falando do outro lado. Eu quero falar com gente! Eu preciso falar com um ser humano! Eu não quero ser atendido por uma máquina fria e programada para dizer as mesmas coisas toda hora que eu ligo e depois desligar o telefone na minha cara! Será que isso é pedir demais? Eu não sou um robô e me recuso a ser atendido por um, pô!

Fazem de tudo para reduzir os custos deles e te deixarem perturbado quando você precisa resolver uma questão. Já tentou cancelar uma assinatura de qualquer coisa, o seu cartão de crédito ou sua linha telefônica? Se não tentou, então tenta e boa sorte! Inventam tantas manobras nesse momento, te oferecem descontos, mais internet,  ligações internacionais, mesmo sabendo que você nem usa o telefone, um smartphone de “última geração”  novo em folha, tudo pelo valor que você paga por mais um ano, sem aumentar um tostão na sua conta, só para você continuar pagando sua conta direitinho por mais tempo e seu dinheiro continuar a fortalecer o caixa da empresa, alé de estipular uma multa de desistência muito maior que o valor do que estão te “dando” na negociação para continuar com sua linha. Eu decidi não aceitar nada quando quero cancelar um determinado serviço, leve o tempo que for preciso, sendo transferido para quantos atendentes forem, nem ligo, ou melhor, ligo mas não reclamo, passo o dia nessa tarefa, e termino a missão de cancelar. Acho um absurdo, depois de tanto tempo como cliente só na hora em que você desiste lhe oferecerem algumas vantagens, por que não oferecem na vigência do contrato? Simples, porque ficamos calados pagando religiosamente a conta.

É como aquela famosa história do marketing em que o Capeta precisa convencer o cliente a ir para o inferno ao invés de ir para o céu, quando ele mostra o inferno tem uma festa rolando com as melhores bebidas, mulheres e homens lindos e desinibidos desfilando para lá e para cá e todo mundo feliz, se divertindo; Depois quando o cliente vai dar uma espiada no céu, vê aquele marasmo, todo mundo de branco, andando em silêncio em meio a um campo de flores lindas e cheirosas, pássaros cantando, ninguém bolinando ninguém, sem gente bêbada e bonita, muito menos “feliz”, então o que faz esse cliente? Escolhe o inferno, claro, volta todo feliz se preparando para aquela festa do cão e quando a porta se abre ele cai dentro de um caldeirão cheio de óleo fervente e o Capeta na borda com seu tridente afiado espetando todo mundo, um desespero. É mais ou menos assim que você encontra os serviços, uma maravilha para entrar, te prometem mundo e fundos, e quando você adere, ouve “senhor, não é bem assim…”.

Eu não estou nem aí para essas parafernálias tecnológicas, apesar de fazer uso de muitas delas por necessidade profissional e pessoal, meu telefone me serviria muito bem se usado para o básico, falar com as pessoas, mas todo mundo usa internet, mensagens e sei lá mais o quê, falar mesmo só em alguns casos, poucos, fica devendo ao banco ou ao cartão para você ver como ele funciona bem mesmo para ligações! Mas mesmo não estando nem aí para isso, elas estão aqui para serem usadas, se não uso o problema é meu e que se dane, é o que temos para hoje e ponto!

Pior ainda são aqueles atendimentos robóticos que pedem para você falar o que deseja, aí sim a coisa fica bem legal, você diz uma coisa e a tal da inteligência artificial entende outra, você fala “vai”, aquilo entende “sai” e por aí vai, só Deus mesmo nessa causa. Você deve estar pensando: “mas que cara chato esse, está reclamando há três crônicas já, será que não cansa?”, muito pelo contrário, eu já cansei, por isso estou reclamando, não da modernidade, mas de falar com robôs, de ser atendido por uma máquina, de pedir música para uma bolinha com luzinhas azuis que não toca o que quero, mas o que ela entende que eu quero, e quando eu a xingo, ainda me chama de mal-educado, eu? Daqui a pouco se você precisar de um psicólogo vai ter que recorrer a um trem desses, programado com um monte de teorias de Freud, eu acho melhor procurar um humano, que vai conversar com você, te entender e ajudar de verdade, nunca fui, mas se precisar de um no futuro, acho que não demora, prefiro que seja um humano.

Até nos estacionamentos de shoppings, supermercados e outros comércios, você é atendido por uma máquina, nem para pagar o tíquete tem um ser humano para receber, você vai a um totem e faz toda a operação. De tanto só falar com máquinas vejo jovens que não sabem interagir com pessoas de verdade, alguns são como cachorro de apartamento, que quando vai passear na rua sai latindo para todo mundo, avançando nas pessoas, com a diferença é que esses jovens não latem, sabem falar. Gosto de ver gente, de ter amigos, não quero um milhão deles como o “Rei”, mas dois ou três que sejam sinceros e possam me emprestar o ombro nos momentos difíceis e até uma grana quando a coisa aperta, nesse ponto todo mundo corre, a máquina não, mas te cobra juros exorbitantes.

Enfim, acho que essa é minha última crônica reclamando, pelo menos por agora, prometo na próxima falar de outra coisa mais leve, é que estou chateado mesmo com essas modernidades, a frieza das coisas de hoje e a falta de humanidade de quem poderia estar junto de nós curtindo a vida. Aliás, “curtir” a vida hoje é postar fotos com copos de cerveja nas mãos, piscinas ao fundo, como se a vida fosse uma eterna festa. Olha o inferno do marketing!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.