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Alameda 64: Gesto estético e político de resistência.

Em tempos em que a história parece constantemente disputada, “Alameda 64” surge como um gesto estético e político de resistência. O curta-metragem dirigido por Guto Togniazzolo, produzido pela Gutoto Produções Digitais em parceria com a Cooperativa Paulista de Teatro e realizado graças à Lei Paulo Gustavo, convida o público a revisitar um dos períodos mais sombrios do país: a ditadura militar brasileira para iluminar sobretudo as violências dirigidas contra corpos femininos.

Equipe do Curta-metragem

Com apenas 17 minutos, o filme constrói um delicado híbrido entre ficção e documento. A história acompanha Eugênio (Luiz Felipe Choco), um jovem que decide visitar um endereço: uma casa silenciosa, quase suspensa no tempo, evocando as muitas “casas de tortura” que existiram pelo Brasil, como a chamada Casa Querosene, em Itapevi. Em paralelo, uma jovem revive memórias traumáticas de repressão e violência.

Essa abordagem nasce de uma pesquisa profundamente ancorada em documentos reais, inspirada pela Comissão Nacional da Verdade. E é justamente dessa investigação que o filme evidencia um ponto incômodo: ao contrário de outros países da América Latina, o Brasil não produziu justiça plena pelos crimes cometidos durante os anos de chumbo. As lacunas permanecem abertas e a arte, mais uma vez, assume o papel de preenchê-las com sensibilidade e indignação.

Durante o debate pós-exibição, referências marcantes reforçaram o coração do curta. Surgiram nomes como Eunice Paiva, Sueli Kanaiama (vítima brutalmente esquartejada no período), e reflexões sobre a distorção histórica sofrida por figuras femininas como Dilma Rousseff, além da importância de pensadoras como Maria Rita Kehl, cujo trabalho ressoa na construção das camadas emocionais do filme. A equipe também destacou como a narrativa carrega ecos da Lei Maria da Penha, articulando violência doméstica, repressão política e a permanência estrutural do machismo.

Um dos atores e produtores do filme, Diaulas Ullysses, sintetizou com clareza: “O curta é um olhar poético dentro de um mundo que se desfacela.”

E talvez seja exatamente isso que faz de Alameda 64 um trabalho necessário: ele aposta que a poesia, quando se encontra com a verdade, tem força para reconstituir aquilo que a história tentou apagar.

A exibição de estreia contou com a presença da equipe, convidados e amigos, na Pinacoteca de São Bernardo do Campo.(29/11/2025)

Exibições gratuitas:

• 06 de dezembro – 20h – Biblioteca Monteiro Lobato (Auditório)

• Centro de Audiovisual de São Bernardo do Campo (sessão para alunos)

Autor: Rafael Ramires Santos Gasques – Coluna Cultural (Especial)

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