
Na correria da vida, pagar contas, trabalhar, conquistar sonhos, correr de novo, pagar outras contas, fazer outros trabalhos, conquistar mais sonhos, nos esquecemos de viver, de não fazer nada vez ou outra, de apreciar as coisas simples da vida, de olhar para o outro e dizer “bom dia!”, mesmo sem nunca ter visto essa pessoa, de dizer “eu te amo” a quem amamos.
Vivemos na ânsia de sermos sempre mais, mais ricos, mais produtivos, mais bonitos, mais famosos, sempre queremos mais, nada nos basta, e a vida passa, o sol nasce, se põe, luas cheias chegam e se vão, marés sobem e depois descem, faz frio e calor, chove e depois desabrocham as flores, e nós preocupados com ter mais isso ou aquilo.
Depois procuramos os gurus, gente que “ajuda” você a conquistar o que deseja, mas não se responsabiliza se você não conseguir conquistar, pois não seguiu direitinho o que ele disse, então “a culpa é sua!”, sim, pode até ser, mas ninguém está do seu lado o tempo todo para ver o que acontece no seu dia a dia, as suas aflições e medos, sua solidão e desespero perante a vida, “a culpa é toda sua!”.
E nessa corrida maluca, esquecemos de escrever a nossa história, o que realmente fica depois, deixamos de ser verdadeiros, escondemos coisas que não gostamos e mostramos ao mundo, através das redes sociais, uma realidade que não temos e nem vivemos, criamos no mundo virtual um personagem, e ele não tem problemas, vive viajando, em festas, shows, sempre feliz, poderoso e sem problemas. Essa história se acaba na próxima postagem.
Só que a conta chega na forma de ansiedade, desilusão, tristeza profunda, tudo o que as mídias sociais não enxergam, mas o espelho mostra. Percebemos o vazio que há dentro de nós, um buraco negro que engole nossas emoções e caímos em depressão, compensada com mais vida inexistente para provar que somos felizes, mas não temos condição emocional nem de fazer propaganda de margarina numa manhã alegre com a família unida, pois a família real não se dá, é cada um por si, a não ser nas fotos do Instagram.
Queremos deixar para os filhos e netos bens materiais, dinheiro, “tranquilidade”, mas não deixamos histórias para contar, causos divertidos de convivência, vida vivida, tristezas e alegrias. O dinheiro vale mais do que uma boa história, somos egoístas, praticamos o egoísmo diariamente, cultivamos a inveja ao invés de nos alegrar sinceramente com o sucesso do amigo ou parente.
Falamos dos defeitos dos outros e esquecemos os nossos próprios, normalmente o que nos incomoda no outro. Criamos um ser poderoso e indestrutível, brigamos por alguém que nem conhecemos e deixamos de falar com quem conhecemos há muito tempo, tudo para lacrar na internet, enquanto a vida desce a ladeira a toda velocidade. Corremos atrás de curtidas, de visibilidade, nem que para isso seja necessário desfazer de outra pessoa.
Nada vamos levar dessa vida, ficará tudo aqui, tudo mesmo, até esse invólucro frágil chamado corpo vai se desfazer com o tempo, enfiado num buraco escuro, esquecido num cemitério qualquer. Já somos indigentes em vida, damos mais valor ao que nem conhecemos, julgamos quem nunca vimos e damos o veredito, sempre culpados, “todos errados e eu certo”. “Sou ninguém, mas digo e faço parecer que sou o cara”.
E nossa vida vai se acabando, sim, um dia viraremos pó, nosso corpo físico vai morrer, daí não haverá uma segunda chance, seremos esquecidos, nossos perfis com milhares de seguidores serão apagados, nada mais sobrará, nem na memória das pessoas, continuaremos a ser o que sempre fomos em vida, nada.
Não deixe que isso aconteça com você, faça algo para mudar sua história, para que perdure sua passagem pela vida, viva o mundo real, faça coisas de verdade, se não puder ir a uma praia paradisíaca, vá a uma praia comum, se não puder frequentar festas espetaculares, frequente as populares, tenha um carro popular, more num apartamento pequeno, a piscina do clube não é a da sua casa, fica ridículo fingir que é, todo mundo vê que não é, viva com o que tem e não invente um personagem!
Podemos deixar histórias maravilhosas para a eternidade, podemos rir de nós mesmos, de nossos defeitos, de nossas gafes, de nossa ingenuidade, e isso vai fazer bem. Podemos ser nós mesmos o tempo todo, com problemas, tristezas, pobreza e ninguém tem nada com isso, não precisamos fingir nada para sermos aceitos em grupos onde todo mundo é irreal, é preciso ser aceito como somos, se não nos aceitam, não nos merecem, e que se danem!
As coisas mais simples são as melhores, um bate papo com amigos num boteco, a comida simples da vovó (quem não se lembra de um prato delicioso que a vó fazia? Eu sinto até o gosto do “arroz da vó”), um beijo no escuro do cinema, um passeio no parque da cidade, um afago gostoso da mãe, ir ao campo de futebol com o pai, é isso o que vale a pena, o resto é o resto, se não tivermos não fará falta.
Corremos tanto atrás do vento, ele passa, faz seu movimento e vai embora, esperamos outro vento e tantos outros, deixamos de lado as pessoas importantes e quando nos lembramos delas já é tarde, não dá mais tempo para um abraço, de conviver com aquela pessoa, lembramos só da parte triste da história, pois foi a que vivemos mais intensamente, porque não tivemos tempo de curtir as boas histórias, os bons momentos. Então vem a culpa, o sentimento de que poderia ter feito mais, de que se estivesse perto nada de mal iria acontecer, só que a morte é certa, sabemos que ela vai acontecer mais dia menos dia, mas não somos preparados para a perda, simples assim.
Temos que corrigir o rumo de nossa vida enquanto há tempo, ser menos egoístas, pensar mais em “nós” do que em “mim”, claro que temos nossas coisas a fazer, mas depois de cumprir nossas obrigações, pagarmos as contas, trabalharmos e conquistarmos os sonhos, vamos viver a vida que merecemos, dando um tempo na correria e conquistando o que o dinheiro e nem o poder podem comprar de forma alguma, o amor e o carinho das pessoas.

Muito bom! Assino embaixo.