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NADA É COMO ANTIGAMENTE

Nem as pessoas, nem os produtos, nem o clima e nem nada que temos hoje é como era antigamente, e meu antigamente não é tão antigo assim, pelo menos o meu, decorre de uns cinquenta anos para trás, ou melhor uns quarenta e poucos, porque antes disso eu não me lembro de nada, mas do que me lembro depois dessa fase, e me faz falta, nada mais é como antes.

O tempo passou, as pessoas, assim como as tecnologias evoluíram, mas eu acho que algumas pessoas não evoluíram, voltaram a um estado primitivo de vida solitária, com medo de estar junto com os outros fisicamente, então usam seus modernos smartphones para se comunicarem, mesmo que estejam sentados na mesma mesa de um bar e bebendo a mesma cerveja. Coisas também não são mais as mesmas, os produtos que antes duravam décadas sem dar um defeito, hoje duram poucos anos, se chegarem ao plural no quesito tempo de duração e uso. Uma geladeira cruzava intrepidamente gerações e, quando trocada por uma mais moderna, podia ser doada para quem não tinha uma sem problema algum, a não ser por pequenas manutenções como troca de borracha da porta e da lâmpada interna e alguns arranhões pelo uso, no mais ainda era quase novinha em folha, como se tivesse saído da loja há pouco tempo, uma televisão era a mesma coisa durava uma vida e depois outra com uma troca de válvula aqui um botão do seletor ali, ficava prontinha para outra sessão da Capitão Asa.

As pessoas antigas, essas do tempo em que eu era jovem, tinham mais cortesia, se cumprimentavam na rua, sabiam quem eram os seus vizinhos, passear no calçadão, no Centro de Juiz de Fora, era um festival de encontros, cumprimentos, conversa fiada, tapinhas nas costas, uma simples ida ao comércio terminava numa cervejinha, ou num doce na Casa de Doces Brasil, onde as moças que atendiam não anotavam em comandas o que você pedia e no final sabiam direitinho o que tinha sido consumido por você no meio daquela confusão, quem conhece sabe do que estou falando, entregavam a conta certa, sem calculadora, computador ou outro meio eletrônico para fechá-la, era só pagar no caixa. Bons tempos…

Nem os carros de hoje são iguais aos modelos antigos, aliás, os carros de hoje são todos iguais, parecem ter saído todos da mesma prancheta ou do mesmo programa de design, com uma ou outra diferença, mínima aos olhos menos treinados, vão para as ruas, enganando todo mundo. Os carros antigos tinham um charme especial, um Opala, da Chevrolet, era diferente de um Dojão, que era diferente do Dojinho, ambos da Dodge, e assim por diante, hoje tem uma porção de marcas no mercado e todas elas são do mesmo grupo empresarial, carros de vários modelos e marcas são montados na mesma fábrica e vendidos quase nas mesmas concessionárias. Você compra um jeep e ele é da Fiat, um Nissam é da Renaut e assim em diante, acaba que tudo vem do mesmo lugar com as mesmas peças, o mesmo desenho e com o nome diferente, na verdade isso é um saco, me desculpe a expressão.

Nem o clima é mais o mesmo, em Juiz de Fora, há uns anos, fazia um frio de doer a alma, era difícil ficar na rua depois de certo horário da tarde no inverno, precisava de uma quantidade boa de casacos e todos eles grossos, hoje já não se tem mais aquele frio todo, é por conta do aquecimento global, causado pelo desmatamento, o uso de combustível fóssil e mais um monte de coisas que nós, seres humanos fazemos na vida que degrada o meio ambiente. Pobres de nós, seres humanos, que de modo próprio destruímos o lugar onde vivemos e vamos deixar uma herança maldita para as próximas gerações. Nem para preservar o nosso meio estamos servindo mais! Fim dos tempos, da Terra, de tudo, até das coisas que não funcionam mais como antes, daqui a trinta anos, como estaremos? O que vamos comer? Onde vamos morar? Como vamos procriar? Fica a dica de pauta para o Globo Repórter.

Os apartamentos, que antes eram espaçosos, altos, com cômodos grandes, estão dando lugar para verdadeiros cubículos, dizem que é porque as famílias estão ficando menores, porque ninguém mais compra imóveis grandes, são os novos tempos, novos hábitos de consumo, inclusive de moradia, tudo bem, se é assim, mas pelo menos façam as paredes das divisas entre unidades mais grossas, pois em alguns imóveis vizinhos de parede se escuta bem o que se faz do outro lado, perdeu-se a intimidade, e isso não é porque as famílias estão menores e tem gente morando sozinha. Foi-se o tempo das belas fachadas dos prédios, hoje é tudo de ângulo reto, por economia, ou porque é mais moderno, chego à conclusão de que ser moderno é ser meio chato nas formas, nas artes e na vida.

A distância entre pessoas pode ter sido encurtada, hoje se fala com uma pessoa no outro lado do mundo como se ela estivesse aqui do lado e fala-se com a pessoa que está aqui do lado como se ela estivesse do outro lado do mundo. Ninguém quer dar dois passos a mais para se encontrar e falar sobre um projeto, tudo é feito em reunião virtual, vídeo chamada, chat, mensagens cheias de códigos que eu não entendo nada “TMJ”, “ABS” (isso para mim é sistema de freio), “BJS”, daqui a pouco um casal de namorados vai conversar assim: “AMR”; “SM?”; “VMS TRSR?”; “Ñ TÔ AFM”; “PQ?”; “PQ Ñ QR” … uma loucura, mas não duvido. Em breve, o dicionário vai ter isso lá, se é que já não tem, quando converso com alguém que me manda uma mensagem cifrada dessa, que não entendo nada, faço que entendi para não ficar mais enrolado e dou logo tchau, escrevo essa palavra com todas as letras e beleza da palavra, que é bela, depois tento conversar falando para entender melhor a conversa. Assim como o Latim evoluiu da língua inculta, o português está indo para o mesmo lugar, só que de uma forma menos culta ainda.

Pois é, estou ficando velho mesmo, talvez até um pouco rabugento, ou será que percebo as mesmas coisa que todo mundo e só eu falo sobre o que sinto? Outro dia uma pessoa veio me falar de um tal de CHAT GPT, negócio que escreve textos sozinho usando inteligência artificial, respondi que para escrever as besteiras que eu escrevo prefiro a inteligência natural mesmo, até porque escrevendo assim posso assumir que cada texto que escrevo, mesmo as maiores bobagens, que já escrevi são fruto de minha mente mesmo, nada desse negócio de inteligência artificial aqui, prefiro a falta de inteligência natural mesmo, essa é insuperável na forma e no conteúdo.

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